Venezuela <br>à beira de eleições

Pedro Campos

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No contexto de uma feroz guerra económica que se traduz em açambarcamento ou desaparição de produtos essenciais (1), inflação artificial vertiginosa de preços (2), a Venezuela aproxima-se rapidamente do dia 6 de Dezembro (6D), naquela que é a vigésima eleição popular desde que a revolução bolivariana chegou ao poder em 1999, através do voto popular e em condições sumamente difíceis (3).  Ao longo dessas vinte consultas, os bolivarianos só perderam uma vez no que foi uma vitória pírrica para a direita.

Nas próximas eleições legislativas estão em discussão 167 deputados para a Assembleia Nacional, 113 nominais e 51 por lista, além de três representantes indígenas de forma nominal.

Por agora, a direita contra-revolucionária, que continua a dominar maciçamente os meios de comunicação, grita aos quatro ventos que vai ganhar e não faz a coisa por menos de vinte pontos de diferença. A noite de 6D dirá se dizem a verdade ou se uma vez mais estão prontos para gritar «fraude!» e se estão, outra vez a jogar em dois campos: no da legalidade democrática e no da violência fascistoide. Tudo indica que vai (re)tomar o atalho da inconstitucionalidade de tantas que são as vozes que já falam em fraude. Para começar vejamos o comportamento da famigerada MUD (Mesa de Unidade Democrática, que pouco tem de unidade, nada de democrática e muito de banco).
No dia 6 de Junho o presidente Maduro propôs à (mal)dita MUD a assinatura de um documento onde essa organização e o Pólo Patriótico (forças bolivarianas) se comprometiam a aceitar os resultados eleitorais anunciados pelo CNE. A 26 de Outubro, Maduro assinou esse documento e a MUD recusa-se a fazê-lo. Não é necessário ser adivinho para saber das suas «razões» para tal...

De facto, de nada serve que recentemente o ex-presidente Jimmy Carter se tenha referido ao sistema eleitoral venezuelano como o mais confiável do mundo, mesmo sobre o do seu próprio país. De nada serve que na Venezuela haja 22 auditorias cada vez que se avizinha um processo eleitoral e que elas sejam feitas na presença dos partidos da oposição, que terminam por confirmar a sua fiabilidade. De nada serve que um grupo de embaixadores (7 de Novembro) se tenha reunido com o CNE para observar o processo de auditorias das máquinas de votação. De nada serve que Vicente Bello confirme que o CNE não pode alterar o sentido do voto. «No dia das eleições, afirma, o que o CNE poder fazer é atrasar, mas não pode mudar os resultados sem que nós o notemos». O mesmo Bello ratificou ainda que a confidencialidade do voto é total e ninguém pode saber como votou o eleitor. Manifestou também que dentro do CNE há uma maioria de membros simpatizante do governo (4x1), mas isso não afecta os resultados de «nenhuma maneira». Sobre o resultado das eleições adiantou que é difícil fazer projecções: não é uma só eleição, são 87 nominais e 24 por lista. E rematou: «Aqui nunca ninguém encontrou uma só acta de votação onde exista uma diferença com o que publica a página Web do CNE».

Querem saber quem é Vicente Bello? O representante da MUD no Conselho Nacional Eleitoral!
Contudo, o leitor pode apostar e ganha. No 6D ao entrar a noite, no caso de derrota, a oposição, dentro e fora do país, vai gritar o que já começou a gritar: «fraude!».

Como escreveu recentemente o jornalista e comentador político Díaz Rangel. «... a oposição persiste na sua campanha de descrédito, agora com apoio do exterior, e não cessará até ao próprio dia das votações (...) Virão euro-deputados, ex-presidentes e dezenas de políticos trazidos pela MUD, com o único fim de tentar sabotar, fazer barulho, entorpecer o processo, escandalizar nos seus países, enfim, perturbar as eleições e a imagem democrática da Venezuela, assim como a pureza dos comícios e denunciar alegadas fraudes».
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1 Num só dia e num só mercado municipal de Caracas (Quinta Crespo) as autoridades apreenderam 101 toneladas de comida e puseram-nas à venda a preços justos.

2 Importadores e comerciantes beneficiam do dólar subsidiado (6,30 vs bolívar) e vendem a dólar paralelo (c. 800) acrescido de «margem de benefício».

3 Na Venezuela, tradicionalmente as eleições legislativas e autárquicas realizavam-se depois das presidências e, pela dinâmica eleitoral que gera a vitória, o partido do presidente eleito soía ganhar com mais vantagem as eleições seguintes. Quando a direita sentiu que Hugo Chávez podia triunfar, alterou a sequência dos comícios para evitar essa situação e ter um parlamento opositor.




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